Prólogo

Prólogo

Frio. Enquanto voltava lentamente à consciência, um frio congelante foi a primeira sensação percebida. Não se lembrava direito de como havia parado ali, caído no meio da neve, nem sabia onde estava. Abriu os olhos lentamente, tentando se localizar. A visão do céu noturno não foi muito animadora. A quanto tempo estaria ali, deitado no meio do nada?
A neve recomeçara a cair. Podia sentir os flocos de neve caindo em seu rosto, fazendo o sentir mais frio. Considerando que logo a neve se acumularia sobre ele, não parecia uma boa ideia continuar ali, congelando.
Quando tentou levantar, sentiu as articulações rígidas e os membros dormentes. Quase não sentia as mãos, e não tinha certeza se conseguira colocar-se de pé. A armadura de aço negro parecia pesar mais que uma tonelada, e a cada movimento parecia que iria morrer de dor. Quando finalmente levantou, sua cabeça latejava, e era difícil manter o equilíbrio enquanto caminhava.
         Dirigiu-se a passos lentos para um pinheiro incrivelmente grande, que se erguia 
solitário em meio ao mar de neve branca. Lá estaria livre da neve por algum tempo, até reunir forças para se recuperar. A caminhada, que não passava de algumas dezenas de passos, não se mostrou nada fácil. A cada passo parecia que iria desmaiar, e quase não podia se manter de pé. A única coisa que o mantinha caminhando era o fato de que, se caísse ali, seria sepultado pela neve em pouco tempo.
         Quando finalmente chegou ao pinheiro, sentou-se em sua sombra e apoiou-se no tronco. Era o maior pinheiro que já tinha visto, seu tronco era tão grosso quanto uma torre de vigia e era tão alto quanto. “Daria um ótimo aríete” – pensou, enquanto tirava o elmo.
         A armadura estava fria, mas ele decidiu não tira-la, pois acabaria congelando do mesmo jeito. Sua única esperança era que Sombra o encontrasse antes que morresse congelado. Era um fim triste para um bom cavaleiro, embora existam formas piores de morrer.
         “Como eu gostaria de um pouco de bebida para me aquecer” – suas forças estavam cada vez menores, e sentia que não poderia agüentar muito tempo. Ele sabia que de nada adiantaria levantar e tentar voltar ao vilarejo. A última caminhada provara ser dolorosa o suficiente, e, além disso, tinha quase certeza de que não poderia avançar muito antes de cair morto. Então resolveu esperar a lenta morte por congelamento. –“Não será tão ruim depois que eu adormecer, mas será uma pena, ainda tenho tanto para viver, tanto para fazer.”
         Logo começou a se sentir sonolento, e manter os olhos abertos se tornou extremamente difícil. “Não posso me render, não agora” – o mundo parecia cada vez mais escuro, o sol parecia estar morrendo. Sua visão turvava cada vez mais, e ele não pode mais manter os olhos abertos.